Perspectivas de História local e regional

História Nacional versus História local e Regional

As vozes que se têm levantado contra o modelo tradicional de historiografia por ele se compadecer apenas pelas figuras de relevância nacional, os grandes heróis da História de Portugal, ignorando o cidadão comum, continuam a fazer-se ouvir por toda a parte e, pelo que tenho visto em publicações patrocinadas pelas autarquias, em fóruns digitais (mesmo nos generalistas) ou na blogosfera, esse apelo tem sido favoravelmente acolhido por um número cada vez maior de portugueses, pelo que não será descabido afirmar-se que está em curso um movimento irreversível pela renovação do conceito de objecto historiográfico e pela coexistência de uma História Local ou Regional com a Macro-História. Enquanto que esta continua a ser, teimosa e comodamente a «cosa nostra» de academistas consagrados, a História Local ou Regional, costuma fazer as delícias da maioria dos jovens licenciados que procuram um tema sustentável para a sua tese de doutoramento e que depois servirá, na maioria dos casos, para rechear os arquivos universitários como mais uma referência bibliográfica destinada, não ao público em geral, não aos habitantes das localidades ou regiões estudadas, mas sim às novas fornadas de doutores.

Histórias de cegonhas

Em Nisa, no Alentejo há uma curiosa história de uma cegonha, ainda viva, a Maria de Nisa que se transformou numa figura singular da vila. Vejamos o que dela se conta.
«A Maria é uma jovem cegonha que perdeu os seus pais devido à secura alentejana. Consta que partiram para longe, talvez em busca de outras águas. A população de Nisa adoptou-a e alimenta-a e ela passeia bem-disposta pelas ruas e praças da vila.»
Fonte: http://valkirio.blogspot.com/2009/07/maria-de-nisa.html

Onde é que nós já vimos isto? Em Figueira de Castelo Rodrigo, é claro.
A história da Joana é parecida. Mas a Joana já faleceu, atropelada por um automóvel ao atravessar uma rua da vila, apesar do cuidado que ela tinha em servir-se das passadeiras destinadas aos peões (como se pode ver por uma das raras fotos que dela saudosamente se guarda). A história da Joana, que passou por vários órgãos de comunicação, na televisão e na imprensa, na blogosfera, foi contada assim por Nando Costa:

O Zé da Pipa

O Zé da Pipa era um homem danado a virar copos. Atarracado e duro como moita de carrascos, gabava-se de não ter medo de almas penadas. O vinho tornava-o avinagrado por dentro, fazendo a vida negra à mulher. O filho mais velho, o Meio Quartilho, como lhe chamavam por causa do pai, chegou a atirar-se a ele para defender a integridade física da mãe que ameaçava sair de casa de vez para que o homem se emendasse, embora tudo se resumisse sempre a lérias. Ele continuava a beber e o bafo saía-lhe da boca acre como baga de zimbro. No dia de aniversário, em vez de velinhas, exigia copos acesos.
Numa tarde de fins de Outubro, sentiu-se mal. Inchou como um touro, e correram com ele para o hospital concelhio. Como ali não havia aparelhos à altura, foi preciso levá-lo no carro dos bombeiros para a Guarda. Pelo caminho ia perguntando se lá também davam vinho e rogava pelas alminhas que tivessem cuidado com as luas e a trovoada, porque lhe podiam turvar o vinhinho. Regressou ao fim de três dias fresco e rijo como agrião e cheio de saudades da pipa.

A Tragédia do Colmeal

Colmeal, outrora designada de Colmeal das Donas é uma aldeia abandonada da freguesia que ainda lhe deve o nome, situada no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo. De origens remotas (surge pela primeira vez mencionada em documentos papais e leoneses do século XII) tem uma história curiosa que atingiu o dramatismo a partir da década de 40 do século passado que, começando por fazer correr rios de tinta na imprensa regional e nacional nos anos que se seguiram à revolução dos cravos, tem vindo a ser cada vez mais mediatizada e a constituir motivo de fascínio por parte das novas gerações que a têm feito passar nos meios de comunicação social nas mais variadas formas, que vão desde as interessantes versões romanceadas de Felícia Cabrita até às reportagens de Sandra Invêncio e de Gabriela Marujo que exploram as memórias e lamentações dos seus antigos habitantes e expõem toda a verdade nua e crua da história desta «aldeia fantasma».

Tocadores de concertinas regressam a Figueira de Castelo Rodrigo

O Largo Serpa Pinto, em Figueira de Castelo Rodrigo, vai ser, no domingo, o palco da sétima edição do Encontro de Tocadores de Concertina e Cantadores ao Desafio, um evento organizado pela Agência da Fundação Inatel da Guarda e Junta de Freguesia.

Reviver o Passado

A celebração do 1.ª Festa da Pecuária do Concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, foi mais uma prova do gosto manifestado pelos habitantes do concelho pela recuperação das tradições dos seus ancestrais e para a sua mobilização prática nesse sentido. Actualmente o Encontro de tocadores de concertina, outro valor patrimonial em recuperação, vai já na sua sétima edição e promete continuar.

Memórias de um atento observador

O Dr. António Vermelho do Corral é Director do jornal local , Ecos da Marofa, e um atento observador da realidade cultural e sociológica do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo. Os seus editoriais constumam ser verdadeiras lições de História local e sociológica.