História Nacional versus História local e Regional
As vozes que se têm levantado contra o modelo tradicional de historiografia por ele se compadecer apenas pelas figuras de relevância nacional, os grandes heróis da História de Portugal, ignorando o cidadão comum, continuam a fazer-se ouvir por toda a parte e, pelo que tenho visto em publicações patrocinadas pelas autarquias, em fóruns digitais (mesmo nos generalistas) ou na blogosfera, esse apelo tem sido favoravelmente acolhido por um número cada vez maior de portugueses, pelo que não será descabido afirmar-se que está em curso um movimento irreversível pela renovação do conceito de objecto historiográfico e pela coexistência de uma História Local ou Regional com a Macro-História. Enquanto que esta continua a ser, teimosa e comodamente a «cosa nostra» de academistas consagrados, a História Local ou Regional, costuma fazer as delícias da maioria dos jovens licenciados que procuram um tema sustentável para a sua tese de doutoramento e que depois servirá, na maioria dos casos, para rechear os arquivos universitários como mais uma referência bibliográfica destinada, não ao público em geral, não aos habitantes das localidades ou regiões estudadas, mas sim às novas fornadas de doutores.
Felizmente, já muitos estudos foram publicados no âmbito da História Local e Regional e são-no cada vez em maior numero e pelos mais variados meios, graças aos progressos da Cibernáutica, mas eles devem-se mais ao sacrifício e à dedicação apaixonada de autodidactas do que ao trabalho de profissionais especializados.
Todavia, é prematuro afirmar-se que a História Local está melhor. A meu ver a maioria das publicações locais são obras generalistas, monografias e roteiros turísticos que apresentam breves extractos ou resenhas históricas compiladas e recompiladas de textos historiográficos com meio século de existência e, portanto, repetem-se os mesmos mitos da fundação, o mesmo sentido da história factual, nos domínios estritamente político (soberania leonesa, depois portuguesa…) militar (a Salgadela…) e diplomático (o Tratado de Alcanizes…), e ponto final. Claro que é importante conhecer estes factos, desde que a sua credibilidade seja constantemente posta à prova, o que também não tem acontecido ( isto é um mal menor, que pode ser discutido noutro espaço!), mas os mesmos factos e personagens a eles associadas são, afinal de contas, factos e personalidades de relevância nacional e, como tal, menos convenientes ao público local, a cujo conhecimento prioritariamente se destinam. É fácil entender que o Manel da Mata de Lobos, por exemplo, se interesse mais pelas histórias do Zé da Pipa do que pelas histórias de Pedro Jacques, acerca do qual lhe bastou saber que foi quem correu com os espanhóis naquele sítio perto da sua vinha, onde até está uma cruz de pedra a dizer isso. Isso justificará a exclusão dos tais factos de relevância nacional na história local de Mata de Lobos? Ou até a substituição do monumento de Pedro Jacques por uma estátua em memória ao Zé da Pipa? Não se trata de uma ironia nem de uma piada. Já li várias propostas deste género!
Eu entendo que a «Nova História» Local e Regional, cuja primordial função é a divulgação de toda a verdade histórica, deve poder coexistir com a História Nacional, isto é, deve ser entendida como a história dos heróis, dos reis, dos marqueses, dos diplomatas, das batalhas, dos tratados que estejam relacionados com a localidade ou com o concelho, mas também do cidadão comum, rico ou pobre, do carpinteiro, do sapateiro, enfim, parafraseando Carlos Vicente (Nas Crónicas do Nosso Povo), do povo simples e humilde e do seu património tradicional. Este é caminho da moderação, pelo mutualismo e pelo compromisso que é o único que me parece viável até que alguém me convença do contrário. Há mesmo quem reconheça que a cegonha Joana é uma figura histórica de relevância local. Eu concordo, mas a sua história já foi publicada em vários formatos e até já tinha uma estátua antes de nascer.
Cada uma das freguesias do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo terá, por certo, as suas próprias personagens históricas, pessoas que em contextos antropológicos e culturais diferentes dos de hoje, marcaram o seu tempo, quer pela sua personalidade singular, quer pelos seus feitos, e cujas histórias foram passando, por via oral, de geração em geração. São estes os protagonistas e as tradições perdidas da nossa História que devemos redescobrir e estudar.
É verdade que já foram dados passos importantes nesse sentido, ao longo das várias edições do Ecos da Marofa, nomeadamente por Artur Gonçalves, Carlos Vicente, António Vermelho do Corral, para citar apenas aqueles que me apraz considerar como os mais notados pioneiros desta forma de interpretar e divulgar os valores patrimoniais, antropológicos e culturais que fazem a História das nossas localidades e da nossa região, mas, os objectivos que parecem sujacentes nos seus seus trabalhos, lamentavelmente, não parecem encontrar seguidores. João Farias, por exemplo, foi uma das figuras históricas figueirense que cunhou o seu tempo, mas quantos, de entre todos o jovens figueirenses saberão da existência desta figura e das histórias a ela associadas, designadamente a do «Coze-te, coze-te João Farias»?
Gostaria que aqui fossem identificadas e deixadas referências (estudos efectuados, fotos relacionadas e possíveis direitos de publicação) sobre esta e outras personagens menos conhecidas, esta e aquela tradição esquecida de tal aldeia ou de toda a região, que ainda não foram resgatas, para que todas elas, tal como os seus feitos, deixem de encaradas como meras «estórias contadas» e se convertam em objectos de estudos ou em instrumentos didáctico-pedagógicos a explorar pelas próprias instituições de ensino e educação, onde o aluno, que tradicionalmente se propunha fazer um trabalho sobre Cristóvão de Moura e a Restauração em Castelo Rodrigo, possa decidir fazer um trabalho sobre João Farias e a vila de Figueira de Castelo Rodrigo do seu tempo ou sobre como se comemorava o Natal ou a Restauração há 80 ou 100 anos. Este tipo de experiência integrada nos curricula escolares não seria inédito, pois já é implementada em Portugal e no Brasil, apesar de ainda existirem vozes discordantes.
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