O Dr. António Vermelho do Corral é Director do jornal local , Ecos da Marofa, e um atento observador da realidade cultural e sociológica do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo. Os seus editoriais constumam ser verdadeiras lições de História local e sociológica.
E EM OUTUBRO O VENTO LEVOU!
E EM OUTUBRO O VENTO LEVOU!
Barca de Alva / Comboio - será que já se vê luz ao fundo do túnel!?
Ao longo dos tempos o mês de Outubro foi pródigo em acontecimentos importantes para o nosso concelho, que vão desde o religioso ao cultural, do político ao histórico. Creio não ser despiciendo fazer neste momento uma breve resenha dos principais acontecimentos históricos que, neste mês, o tempo registou nos Anais da História do espaço concelhio.
Assim, em 17 de Outubro de 1215 Afonso IX, rei de Leão, visita Castelo Rodrigo, onde faz uma doação à igreja de Tui.
Em 19 de Outubro de 1301 os representantes de Castelo Rodrigo pela primeira vez têm assento nas Cortes de Lisboa.
Em 17 do mesmo mês mas do ano de 1642 uma força espanhola composta de 1200 infantes e 500 soldados de cavalaria entram em Escarigo e dominam o destacamento constituído por 70 soldados, tudo saqueando e destruindo, tendo apenas sido poupada a igreja. E continuou pela Vermiosa, Almofala, Torre dos Frades e Mata de Lobos, tendo sido detidos em Escalhão.
Em 26 de Outubro de 1675 toma posse do cargo de Governador da Praça de Castelo Rodrigo o Tenente-Coronel Estêvão Leite de Carvalho.
Por decreto em 24 de Outubro de 1855 as freguesias de Algodres de Vilar de Amargo foram desanexadas do extinto concelho de Almendra e integradas no de Figueira de Castelo Rodrigo.
Em 10 de Outubro de 1858 foi deliberado em sessão camarária iniciar as obras de construção do edifício dos Paços do Concelho, por administração directa.
Em 19 de Outubro de 1887, em sessão camarária, foi designado Paulo Monteiro Correia para se deslocar a Oliveira do Bairro a aprender o tratamento das vinhas contra a filoxera a fim de ensinar os viticultores do concelho.
Em 8 de Outubro de 1808 foi publicado o primeiro número do jornal independente, noticioso e agrícola «Vida Nova» de que era Director Alberto de Aragão.
Em 8 de Outubro de 1910 tomou posse a Comissão Municipal Republicana, tendo como Presidente Francisco Freire de Carvalho Falcão e vogais José da Cruz Lopes Júnior, António Joaquim da Fonseca, José Falcão de Gouveia e António Guerra Bordalo. A Câmara cessante era constituída por Dr. Francisco António Soares de Vilhena, como presidente, Felizberto Poiarez, como vice-presidente e Joaquim Henriques de Matos e Feliciano Coxito Granado como vereadores.
Em 1 de Outubro de 1919 foi nomeada uma comissão para coadjuvar a construção de um hospital na vila. O Estado concedeu incialmente a quantia de 2.000$00 acrescida mais tarde de 3.429$83.
Em Outubro de 1936 realiza-se a comemoração do I Centenário da criação do concelho, tendo presidido às festas o Governador Civil da Guarda, Cap. Arrochela Lobo.
Em 10 de Outubro de 1971 procedeu-se à inauguração da iluminação eléctrica em Castelo Rodrigo.
E, infelizmente e com grande tristeza para o povo figueirense e concelhos limítrofes em 19 de Outubro de 1988 partia de Barca de Alva pelas 07:40 horas a automotora n.º 6010, que chegara de véspera, para nunca mais voltar.
A este acontecimento de triste memória anexemos um facto de natureza política. Foi assinado em 10 de Setembro último entre a Secretária de Estado dos Transportes, Ana Paulo Vitorino, e cinco instituições públicas (Estrutura de Missão do Douro, REFER, CP, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional e Instituto Portuário de Transportes Marítimos) um protocolo destinado a desenvolver um conjunto de infra-estruturas para o Douro, nele se incluindo a recuperação do troço da linha férrea Pocinho/Barca de Alva.
Aguardamos com ansiedade e recuperada esperança a sua reposição. Esperamos que o nosso Governo não se fique pelas boas intenções... que de bem intencionados está o inferno cheio.
Autor: António V. do Corral, editorial do jornal Ecos da Marofa, 10-10-2009
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MUDANÇA DE COSTUMES / MUDANÇA DE VALORES
O Natal decorre num tempo litúrgico que tendo incício no primeiro Domingo do Advento se prolonga até ao Dia de Reis. No seu interim e respeitando a tradição, decorriam manifestações religiosas como a da Imaculada Conceição (dia 8), com a festa na sua capela no Alto da Espanhola onde se exibiam suculentas merendas, o Natal ou nascimento de Jesus com beijação do menino e os mais crentes faziam visitas às igrejas numa devoção especial ao protomártir Santo Estêvão (dia 26), da Sagrada Família (dia 30) e ao Papa Silvestre I (dia 31). Vinham de seguida a Circuncisão do Senhor no dia um de Janeiro, hoje dia de Santa Maria, Mães de Deus e Dia Mundial da Paz, a três o Santíssimo Nome de Jesus e a seis os Reis Magos, dia santificado, e porque não seriam reis se comemora a "aparição da estrela no Oriente e a viagem dos Reis Magos até Belém", com a designação de Epifania do Senhor. Epifania em grego significa manifestação ou aparição.
Comemora-se o Dia da Família, não no dia da Sagrada Família, mas em Dia de Consoada, altura em que se reúne toda a família próxima e distante em reforço dos laços parentais e recordação dos entes falecidos. E nesse dia se distribuem as prendas que a tradição mandava se fizesse em Dia de Reis, por estes ofertarem o ouro, incenso e mirra ao menino recém-nascido, aproveitando a oportunidade da presença de todos. Em alguns países como a vizinha Espanha as prendas continuam a ser ofertadas em Dia de Reis. As crianças colocavam uma meia junto à lareira na expectativa de que o Menino Jesus (hoje mercandizado em Pai Natal) durante a noite viesse e deixasse uma prenda. Para os tempos de hoje a meia de nada serviria face à sua pequenez perante o caudal de enormes prendas que nem a crise retrai.
Produziam-se manifetações de carácter comunitário como armar o presépio, enfeitar o pinheiro, assistir à missa do galo, acender a fogueira de Natal e levantar o pau ensebado em disputa pelo prémio existente no seu topo e cantavam-se as Janeiras como processo social de manifestação colectiva de parentes ou amigos contendo dois princípios: representar em cada casa a visita que os Magos fizeram ao presépio e em compensação da dádiva em canto receber como contrapartida o tributo material de uma moeda ou alimento.
Mas não ficava de fora a comemoração de um dos maiores acontecimentos da História de Portugal que ficou marcada nos campos da Salgadela, na Mata de Lobos - a Guerra da Restauração com investidas de um e outro lado da fronteira, que levou à extinção de povoados como Fontenares nas Cinco Vilas, Colmeal das Olas entre Mata e Almofala, e Torre dos Frades em Almofala, que notabilizou acérrimos defensores como o célebre Janeiro em Escalhão, que com o badalo do sino matou o tenente Zamora, e o Sargento-mor da Ordenança Isidro Pais de Aguilar residente em Escarigo.
A independência ocorrera no dia 1 de Dezembro de 1640. Neste dia os professores e professoras da instrução primária reuniam-se por freguesias e comemoravam o acontecimento com a solenidade que o acto requeria. Assim os professores de Barca de Alva, Escalhão e Mata de Lobos reuniam os seus alunos alternadamente em cada uma das freguesias onde se exaltava o evento: os alunos da terceira e quarta classe recitavam textos alusivos, exibiam-se marchas, distribuíam merendas e à noite a petizada até tinha direito a um bailarico. Em Escalhão a cerimónia decorria na então escola nas eiras, junto ao chafariz, e na Mata em redor do cruzeiro comemorativo da Batalha que a História crismou de Castelo Rodrigo. E em todas as freguesias fronteiriças existem cruzeiros evocativos das atrocidades que os raianos sofreram com as investidas espanholas. Quem se lembra de um e de outros?
Também as Senhoras da Conferência de São Vicente de Paula convidavam moças e moços para cantarem as Janeiras e as ofertas que auferiam eram destinadas àquela instituição que nessa quadra natalícia oferecia às pessoas mais necessitadas. Integrei durante anos esses grupos tocando (muito mal aliás, mas que servia para 'enramar ' o canto) bandolim. Não havia subsídio de inserção social nem de qualquer outra natureza.
No conceito de dádiva, conforme estudos do antropólogo francês Marcel Mauss, estão contidos três princípios: dar, receber e retribuir. Segundo a Constituição Potuguesa todo o cidadão é sujeito de direitos e obrigações. Aquele subsídio apenas tem um sentido. Porque não há-se haver retribuição com trabalho à comunidade, embora respeitando as capacidades e qualificações de cada beneficiário? A menos que apenas tenha valimento a divisa de alguns sectores da sociedade contida na expressão: «Só trabalha quem não tem mais nada que fazer!»
Autor: António V. do Corral, editorial do jornal Ecos da Marofa, n.º 388 de 10-01-2009
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